22 de março de 2011

ORFEU MÍNIMO

(poema dramático)

Eurídice:
Orfeu, Orfeu, não poderia o nosso amor
Me resgatar das mãos frias de Plutão.

As sombras:
Cala-te defunta e silencia o peito,
O reino da morte é agora a tua sorte.

Orfeu:
Por teu amor, minha querida Eurídice,
Desço ao mais imundo lugar do mundo.

As sombras:
Quem desce pela escada de Caronte
Não voltará a respirar o mesmo ar.

Orfeu:
Falta-me o ar no plano dos vivos,
Respiro o seu amor para poder viver.

As sombras:
As sombras temem a luz da vida,
Volta sozinho por este caminho.

Orfeu:
Sem Eurídice sou uma mancha,
Mas brilha a dor de meu amor.

Eurídice:
Não pode haver escuridão,
A chama inda me inflama.

As sombras:
Cala-te mulher, foram-se os teus dias.
És apenas uma vela que nada revela.

Orfeu:
Mesmo este minúsculo ponto,
Eu o seguiria como um guia.

Plutão:
Sai do meu infernal domínio
Infeliz imperador sem imperatriz.

Orfeu:
Irei levando o lume de minha febre
E sua alma me seguirá a palma!

Plutão:
Se conseguires vencer os ventos
A tua doidice te dará Eurídice.

Orfeu:
Atravesso os campos do tormento,
Pavimento a estória ao avesso.
Vem Eurídice!

3 de fevereiro de 2011

Psicografia

Tudo passa,
até uva passa,
passa o tempo,
passageiro,
passa o ouro,
menos tu
que crias sempre,
sempre o mesmo
marca passo.
Onde escutei,
não sei.
Onde vi,
perdi.
Como disse Glauco
a obra é um roubo
o autor um ladrão.