15 de abril de 2009

BEIJO MÍSTICO

Vejo na minha boca uma ponta de tua alma,
Tua língua que mística desfila na entrada de mim,
Como rio que corre e sem furor acalma
As ventanias desoladas do infortúnio.
Onde se escondeu você amada minha?
Imune aos venenos mais mortais
das memórias sem constrangimentos
Dos corpos e somente portas para o desvario
Nos atavios dolentes dos pantanais
De nossas emoções que neles afundam.
Tenho um olho-boca que me divide
A vontade de amar sem qualquer censura
Mas que se perde nas brenhas emperladas.
O navio de mim avança sem porto certo
Para qualquer lugar de qualquer oceano.
Balançam as ondas dos teus cabelos,
Vêem do céu pássaros
Como azulões mensageiros de amores distantes.
Ardem as fogueiras do sentido
E água e fogo e vinho num só ninho
Elevam o êxtase do ósculo lembrado.
A língua é alma que se expande
Que destrói reinos e edifica paraísos
A língua lábios acima e abaixo
Em cima como embaixo tocam-se.
A luz da lua projeta as sombras
Dos pares as quatro direções cardeais
Que fazem do universo em expansão
Um buraco entre todas as eras
Como se não houvesse tempo
Quando te beijava a boca.
Homem e animal
Mulher e animal
Juntos são mais
Um encontra o par
Torna-se outro ao ficar.
As portas da face não cabem
Em si não contém a razão do enigma
Todas as mágoas serão debeladas
As nuvens cinzentas da tempestade
Os córregos pútridos dos ressentimentos
Tudo se abrirá para a nossa dança
Falemos pouco como se nada houvesse o que falar
Mas há muito e muito mesmo
Vivemos construindo edifícios com as ilusões
Vendo elefantes brotando de roseiras
E sofrendo com as dores das feridas.
A neblina cobre os caminhos
Mas os peregrinos continuam na sua rota
Acharemos um ao outro na caixa de fotografias
Amarelas folhas outonais de nossa vida
Encho-me de energia e vida com o teu beijo
Jamais me traiu a sua flor cheirosa
Nem perdeu-se no bosque entre os azeviches
Sempre veio como o pássaro livre ao seu recanto
Voou sempre aos pináculos de seus desejos
Derretendo as barras de todas as prisões.
O contato suave de teus lábios
Sou ainda ao respirar sob o sol o ar que respiras
A escuridão irmã invejosa da luminosidade
Dissipa-se nos corpos celestiais que ascendem
Ceús e esferas sem fim aguardam os amantes
Mais te amo que espero o fado
Nem temo o brilho especular dos obstáculos.
A nossa cidadela guardada das zombarias
Da adversidade gota a gota destilarei gostoso mel
Teus beijos que giraram a ventura
Quando te vi dançar
Você veio e sentou-se ao meu lado
Eu fiquei tão atônito
Você dançou para mim
A dança sagrada do feminino
Eu me senti o rei de um palácio
Tenho certeza de que não soube ter você
Foi justo quando nos separamos eu fiquei sempre
Achando que faltava alguma coisa em mim
Que era você.
Gostaria de encontrar novamente a tua boca
Beijar-te
Como entrando em meu único refúgio.
Arrebato-me ao teu organismo
Partículas de energia que se encontram.
Universais poeiras polifônicas.